sábado, 9 de abril de 2011

E a sua poesia preferida?



         Eu te pergunto: qual sua poesia preferida? E você? Responde? Não responde? Pensa um pouco pra depois responder? Ou admite que essa é uma pergunta para a qual você não tem uma resposta definida? Costumo dizer logo que esse tipo de pergunta não se faz! Assim como "qual seu filme preferido?" ou "qual seu livro preferido?" ou ainda "qual sua música preferida?" Não sei você, mas eu não tenho resposta pra nenhuma dessas perguntas.         
          Mas qual é mesmo sua poesia preferida? Eu quero saber! Tudo bem: não é mesmo questionamento que se faça, ainda mais pra um amante de poesia! Assim como não se faz a um cinéfilo a bizarra pergunta "qual seu filme preferido?"! E tem gente que ainda diz: "Mas só vale responder UM!" Rsrs!
          Mas e se a pergunta mudar um pouco?! "Quais suas poesias favoritas?" Fica mais fácil? Melhor ainda: me diga algumas das poesias que você mais gosta! Bem melhor, concorda? Aí você responde aquelas que primeiro vierem à sua mente! Você não vai se lembrar de todas, tudo bem. Mas a intenção é "algumas das que você mais gosta" e não "a sua preferida."
          
          Bom, deixemos de conversa fiada sobre a melhor ou pior forma de fazer ou responder essa pergunta! Seguindo o segundo método (algumas das que você mais gosta), vou colocar duas das minhas poesias  preferidas:

Amar
        Carlos Drummond de Andrade

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
............................

Lindo demais né? Aff... Sem palavras. Carlos Drummond de Andrade me deixa mesmo sem palavras! Acho que Pâmela concorda comigo! Rsrs!


Psicologia de Um Vencido
                                                          Augusto dos Anjos

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Pronfundissimamente hipocondríaco, 
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme - este operário das ruínas - 
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
...........................

E aí? É Augusto dos Anjos! É o Poeta do Escarro! Mórbido até o osso! Mas existe verdade mais irreversível? Somos todos uns vencidos e o verme nos espreita... 

Digam, ao comentar, ao menos duas de suas poesias preferidas...

Amplexos!


5 comentários:

  1. Adorei o post. É difícil mesmo responder a essa primeira pergunta.Pois existe uma grande limitação na resposta.Arte qualquer que seja ela não tem a intenção de limitar e sim dar abrangência a tudo que lhe diz respeito.Com certeza Drummond está incluso na minha lista de autores e de poesias preferidas.Essa sua segunda poesia de Augusto dos Anjos é realmente a sua cara.Toda vez que leio lembro daquela magnífica aula do nosso(não tão nosso!) professor Deco Duarte. Algumas das minhas poesias preferidas são Quero escrever o borrão vermelho de sangue de Clarice Lispector ("Quero escrever o borrão vermelho de sangue com as gotas e coágulos pingando de dentro para dentro (....)) e Sonhos também de Clarice("Tenha felicidade bastante para fazê-la doce./Dificuldades para fazê-la forte/Tristeza para fazê-la humana/E esperança suficiente para fazê-la feliz.").São tantas as poesias que seria inviável falar de todas aqui.

    Beijos!

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  2. Concordo com você, Rai. É muito difícil escolher uma só, mas vamos obedecer ao nosso amiguinho e indicar pelo menos duas.Bom,como é de se esperar indicarei uma de Drummond, com o coração partido, pois se pudesse fazia uma antologia dele aqui.rs
    Mas vamos ao que interessa: o poema que exponho é Memória("Amar o perdido/Deixa confundido este coração/(...)Mas as coisas findas/ Muito mais que lindas/ Estas ficarão") Pra mim ela é totalmente orgásmica.rs
    E outra é de Olavo Bilac, que tem por nome Língua Portuguesa:("Última flor do Lácio, inculta e bela/(...) Amo-te assim, desconhecida e obscura")
    Poderia falar também sobre Via Láctea, que é totalmente esplendoroso, mas deixemos pra uma próxima ocasião.

    Bjos!

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  3. RAÍZZA
    Concordo com você! Drummond é mesmo O Cara! E nosso amado Deco?! Saudades de suas aulas! E lembro sim dessa! Menina, eu já tinha lido em algum lugar que Clarice tinha escrito umas poesias, mas nunca pesquisei mais a fundo! Quando você citou essa, quase me assustei! Clarice poetisa?! Rsrs... Essas que você citou são mesmo lindíssimas! Vou pesquisar mais essa história de Clarice e poesia. Amplexos!

    PÂMELA
    Calada que Drummond é o MEU poeta! Você pode gostar um pouquinho só... Muito lindo esse Memória. Agora Bilac é Bilac! Via Láctea é o meu preferido por excelência! Mas esse Língua Portuguesa também é maravilhoso... Amplexos!

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  4. Será que teremos que brigar até no seu blog?
    Gostar um pouquinho? Você sabe que sou loucamente louca por Drummond. E ele é MEU poeta. Contete-se, meu filho.
    Rai ai! Quer me deixar nervosa mesmo.rs

    Amplexos para ti também

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